"O perigo de meditar é o dom de sem querer começar a pensar, e pensar já não é meditar, pensar guia para um objetivo."
Clarice Lispector ,
Nossa, faz teeeempo que não escrevo aqui...
Então, em primeiro lugar...Feliz 2013 galera!
Que Deus abençõe esse ano, e que seja um ano seja delicioso, cheio de aprendizagem, de muito assunto, de muitas experiências, conversas, trocas, histórias pra contar e compartilhar, viagens, muita arte, muita música, muitos motivos pra sorrir, muito TUDO e mais aquele monte de clichês de ano novo que todo mundo deseja!
hahahahah...
2013 começou bem reflexivo pra mim; com este livro que li anos atrás, em mil novescentos e Hebe era mocinha..., e li com a maior má vontade do mundo (adolescente né?)... hoje, alguns booons anos depois, relendo,percebi o quanto acrescentou na minha vida, e o quanto é importante ler e ler e reler SEMPRE!
E não só ler, mas questionar, concordar e também criticar o que está lendo!
(:
A PAIXÃO SEGUNDO G.H, de Clarice Lispector, nos induz à um mergulho sobre a condição humana, no que se diz respeito à vida a por meio da experiência de um momento no qual a personagem G.H, escultora, decide arrumar a casa e resolve começar pelo quarto da empregada (que demitira), que julgava a ser o mais sujo da casa.
A sua "decepção" já começa aí, pois, ao entrar no ambiente, percebe o quão limpo está. Julgou alguém por sua "classe social" sem ao menos buscar conhecer de verdade a pessoa.
Então, ela começa a arrumar o quarto e é surpreendida por várias coisas dentro do ambiente que mexem com seu interior levando-a à questionamentos sobre sua vida no geral, e sobre si própria, mas ao abrir o armário, uma desagradável surpresa: uma barata nojenta.
Chiliquenta como toda mulher, G.H tem um siricutico e acaba esmagando a barata na porta (e é neste momento que o livro começa de verdade), pois mesmo sentindo repulsa por aquela situação, de ver a barata ali parada, com um fio de vida, antenas mexendo-se lentamente, aqueles olhos moribundos, o casco marrom que dava-lhe a impressão de ser cristalinamente polido (argh), e a pasta amarelada saindo do invólucro, que é a própria barata (seu verdadeiro ser) , ela começa a se encher de inquietações e questionamentos a respeito de si própria, a respeito de sua existencialidade; se coloca no lugar da barata pensando a respeito de também ser apenas um invólucro de seu verdadeiro ser, a respeito de sua posição no mundo e dentro do sistema tão burguesadamente disfarçado em que vivia com certa facilidade.
G.H fica no quarto com a barata durante horas e horas na busca de sua essência, na busca de sua raiz, quando de repente.....
... de repente eu paro de escrever, porque senão não tem graça nenhuma, pois o livro é MUITO MUITO BOM, tem muuuuuuuuuuuito mais detalhes, e floreios dos que os mencionados aqui (muitos mesmo) e vocês tem que ler um dia...sem pressa!
Afinal, é Clarice Lispector né?!! =D
Engraçado que eu estava olhando aqui umas fotos no arquivo do celular e me deparei com esta aí embaixo, do livro A METAMORFOSE, de Franz Kafka, e digo que é engraçado pois este livro foi o primeiro que li em janeiro de 2012, e é igualmente reflexivo assim como o da Clarice, só que sem floreios (que eu amo)! heheheh...
Mas imagina sóóóóóóó você acordar um dia e perceber que foi transformado numa barata???
Ok, o livro não nos diz que Gregor Samsa (personagem de A Metamorfose) foi transformado numa barata... e sim num inseto asqueroso, mas o aspecto desse inseto que Kafka define, é tão asqueroso, mas TÃO ASQUEROSO que eu só consigo me lembrar de uma barata.
Enfim...diante da uma realidade de uma família de baixa classe social, com poucos recursos financeiros, em que todos passam altos perrengues, trabalhando exaustivamente até tarde, pra dar conta dos aluguéis atrasados e das 87389283486 contas e dívidas a pagar,... um dia, Gregor Samsa perde o horário do trem que ia levá-lo ao trabalho.
A mãe, percebendo e estranhando o atraso, o chama várias vezes no quarto, e ao finalmente respondê-la, ela se espanta com sua voz e pensa em chamar um médico desconfiando que o filho possa estar doente. Nisso, começa a metamorfose tão cristalinamente definida pelo autor, de Gregor num inseto asqueroso...
Toda a família fica curiosa, pois Gregor não abre a porta de jeito nenhum. Ele agora fora tranformado em um inseto de aparência nojenta... como lidar com isso?
São muitas as perguntas... O que aconteceu com ele?
Como lidar com a familia?
Como lidar com o trabalho?
Como aparecer assim, desse jeito perante a sociedade?
O que as pessoas vão pensar dele?
O que ele vai pensar dele?
Aconteceu de verdade?
Foi real?
Ou foi sonho?
Entende a importância?
Em G.H, a metamorfose aconteceu dentro da personagem, na incansável busca da pela sua verdadeira essência e existencialidade, vivendo e enfrentando medos, questões e sentindo aversão pela situação e até por si própria em questão de horas apenas.
Com Gregor, a metamorfose foi além... aconteceu interior e exteriormente, o que não levou à aversão de si próprio somente, mas também à aceitação de ter que lidar com a repulsa de sua própria família... ou seja, forçosamente, as pessoas de seu convívio diário também foram metamorfoseadas por meio dele, por meio das circunstâncias e de um novo contexto e futuro, no qual, Gregor provavelmente, não teria espaço.
Eu creio que nós somos constantemente metamorfoseados ... não tão radicalmente quanto os casos literários acima, mas através de situações desse cotidiano contemporâneo no qual estamos inseridos , ou por meio de experiências e ex-periências...
A metamorfose sempre é sofrida no início... tem sempre uma aparência asquerosa, a gente não gosta...as vezes dói, mas quando vc aprende a conviver com ela, a própria metamorfose te ensina... então, as coisas tornam-se gradualmente leves e quando você menos espera, pronto...é outra pessoa, com focos, pontos, objetivos e visões de vida diferentes...
2 anos.
Um pra cada livro.
2 livros com histórias assombrosamente semelhantes...
Será um sinal?
Acho que to precisando ir ali viver mais algumas metamorfoses... e vocês?